Olá, Web Developers!
Hoje trazemos para vocês uma entrevista com a Talita Pagani, desenvolvedora, empreendedora e membro da W3C’s Web Accessibility Working Group do Brasil.
Se você ainda não viu, o entrevistado da semana passada foi o Rafael Caferati.
Fale um pouco sobre você (de onde é, onde mora, o que faz, onde trabalha atualmente, etc);
Sou a Talita Pagani, tenho 30 anos, estou no mercado desde 2005, atualmente moro em São Paulo, mas vivi até os 28 anos em Bauru - SP, onde me formei e comecei minha carreira de web designer.
Sou formada em ciência da computação, fiz especialização em gestão de projetos e em 2016 concluí o mestrado também em ciência da computação, com foco em Interação Humano-Computador e Acessibilidade Web.
Trabalho na Nexaas (http://nexaas.com), uma plataforma de soluções omnichannel com ênfase na área financeira e ERP. Atuo tanto na parte de estratégia de Experiência de Uso (levantamento de requisitos, entrevistas com usuários, prototipação, etc.) até a parte do desenvolvimento front-end (JavaScript, HTML, CSS, um pouco de Ruby on Rails) em alguns dos produtos.
Formação Desenvolvedor Front-end
Conhecer a formaçãoQuando e como você começou a se interessar pela área?
Quando tinha 13 anos, queria entender como desenvolver sites para compartilhar conhecimento sobre coisas que eu gostava e tinha interesse, como bandas e animes.
Não comecei já codificando direto no HTML. Iniciei com ferramentas como o antigo HPG (só o pessoal antigão vai conhecer), Homestead.com e o MSN Communities.
Aos poucos fui querendo entender melhor como fazer sites mais complexos, dinâmicos e interativos. Comecei a estudar por conta FrontPage 2000 e iniciei um curso profissionalizante de Dreamweaver e Photoshop. Queria ter aprendido a mexer com GCI/Perl, que estava em alta na época, mas no interior era difícil encontrar alguém que soubesse do assunto e encontrar materiais na internet ainda era difícil.
Aos poucos fui querendo entender o que estava por trás das páginas web e ia estudando por conta o que era HTML, o que significava CSS e aprendi JavaScript como sendo DHTML (Dynamic HTML).
Em 2003/2004 comecei um segundo curso de Web Design e Web Development, onde comecei a ver mais sobre HTML, JavaScript, ASP (VB Script) e, claro, muito de Flash. O meu interesse sobre desenvolvimento web só cresceu e eu decidi que queria trabalhar como web designer.
Ainda não sabia a faculdade a fazer, mas já sabia que queria fazer disso a minha profissão. Construir soluções de acesso a todos e que pudessem divulgar conhecimento a uma grande quantidade de pessoas usando a internet foi o que me cativou para mergulhar de cabeça na área.
Algo que acho muito importante frisar é todo o apoio que recebi dos meus pais para entrar nessa área de tecnologia. Eles sempre me incentivaram e apoiaram nessa escolha, mesmo não conhecendo muito da área, que ainda tinha o estereótipo de ser para nerds e, no interior, ser um trabalho que não dava muito dinheiro (rs).
Como foi seu primeiro trabalho na área?
A escola em que eu fazia meu curso recebeu o contato de uma empresa que estava procurando por estágiário para web designer, em 2005. Como era uma boa aluna, a professora do curso lembrou de mim e me indicou. Fiz a entrevista e passei.
Tinha 17 anos e estava super empolgada, mesmo sendo um estágio não remunerado e de apenas 3 dias na semana. Mas isso permitiu não atrapalhar a finalização do curso e do ensino médio, além de me trazer mais aprendizado e responsabilidade.
Cresci muito porque foi o primeiro trabalho de verdade também. Era uma empresa pequena, eu era a única pessoa com menos de 20 anos lá, mas sempre fui tratada com respeito e tive desafios que me fizeram ir atrás de novos conhecimentos. E foi legal porque a empresa era composta 95% por mulheres.
Fiquei 6 meses na empresa e depois apliquei para um processo seletivo de estágio nos Correios para o departamento de TI. Já estava com matrícula na faculdade, fui aprovada e entrei em dezembro de 2005 e fiquei até fevereiro de 2007.
Nesse período, não fazia apenas a parte de web design (layout + front-end), mas aprendi muito sobre back-end e banco de dados com ColdFusion e SQL Server, especializei meus conhecimentos sobre Padrões Web, ajudei a organizar treinamentos, aprendi MUITO sobre JavaScript e foi onde tive meu primeiro contato com o conceito de usabilidade, que mudou minha trajetória de carreira.
Como foi sua experiência como professora na USC? Quais foram os principais desafios e que dicas você dá para quem quer ir para a área da educação?
A USC foi a universidade onde fiz minha graduação, então foi muito gratificante poder voltar como professora. De 2014 a 2016, ministrei cinco módulos na pós-graduação em Engenharia de Software: Design Patterns, Engenharia de Software, Gestão de Projetos e Processos, Modelagem de Software com UML e Interação Humano-Computador, esta última que solicitei para inserir na grade e elaborei a ementa.
O começo é mais complicado porque estava mais acostumada ao ritmo de palestras, que é mais acelerado, enquanto as aulas precisam de uma fala mais calma, interação maior e muita prática.
Para melhorar isso, eu fui observando a dinâmica de cursos em que eu participava e pedia sempre feedbacks aos alunos(as), pois a opinião deles e delas é fundamental. O processo de ensino e aprendizagem não pode ser uma via de mão única, eu percebo como algo colaborativo, me considero estando lá para guiar na aquisição de conhecimento e mentorar o pessoal.
Claro que nem tudo são flores. Já passei por situações como alunos falando no momento da explicação e nomes falsos na lista de chamada. Já tive aluno também reclamando de eu ter dispensando um pouco mais cedo da aula no sábado à tarde, rs.
No geral, fui bem aceita e sempre respeitada pelos alunos. A prova disso são os alunos que me escolheram como orientadora de TCC e os demais que me convidaram como membro da banca examinadora, o qual me senti muito honrada.
Um dos grandes desafios é acertar o ritmo da aula e isso varia muito de conteúdo e do tipo da turma. É preciso se preocupar em motivar os alunos e não deixar a aula monótona. O que eu aprendi a fazer é intercalar conteúdo com atividades práticas e estar sempre acompanhando, tirando dúvidas e fazendo provocações, no bom sentido.
Outro grande desafio foi perceber que preparar material de aula é algo bem custoso. Para cada hora/aula, levo em média 3 horas para preparar o material. Então, para quem quer dar aula, se programe para ter este tempo na sua agenda!
Para quem quer ir para a área de educação, recomendo estudar bases sobre didática, pedagogia e andragogia (ensino de adultos). Sócrates, Piaget, Paulo Freire, Vygotsky, entre outros.
Não basta ter conhecimento técnico para ser docente, é muito importante se dedicar a aprender a ensinar. Você não precisa ter mestrado ou doutorado para dar aulas, com o título de especialização já é possível, mas é recomendável ter ao menos o mestrado se quiser seguir carreira na área.
Formação Desenvolvedor Front-end
Conhecer a formaçãoVocê também possui experiência como freelancer. O que recomenda para quem quer seguir este caminho? (tipo gerenciamento de projetos, como arrumar clientes e jobs, etc)
Já tive uma carreira mais ativa como freelancer, vamos dizer assim. Hoje eu pego somente freelas de curta duração porque percebi que nem sempre é compensador pelo tempo que eu me dedicava.
Acredito que ser freelancer seja compensador se a pessoa for em tempo integral. Freelas para complementar a renda podem ser uma alternativa, mas, olha, o desgaste é muito grande, em termos de tempo, valor nem sempre justo a receber, lidar com clientes difíceis, entre outros.
Em 2012, Zeno Rocha e Bernard de Luna apresentaram uma palestra polêmica justamente sobre isso, chamada “Não faça freela!” (
).
Para quem deseja fazer freela, deixo algumas dicas:
- Sempre faça contrato! É uma garantia para você e para o cliente sobre os direitos e deveres de cada um. Caso o cliente não queira fazer um contrato, prefira não fazer o trabalho, porque a chance de acabar não recebendo pelo trabalho são maiores. É possível encontrar facilmente modelos de contrato de prestação de serviço para download;
- Há duas formas comuns de cobrança: por hora e por valor fechado do projeto. A melhor alternativa irá varias muito do tipo de projeto. Quando são projetos que eu já tenho uma base do tempo que irá levar, opto por estabelecer na proposta o valor total de acordo com as horas trabalhadas;
- Tenha backup do trabalho do cliente;
- Armazene todas as comunicações realizadas com o cliente: e-mails, conversas por texto, etc. Caso algo tenha sido acordado por conversa informal ou skype/telefone, formalize de forma escrita por e-mail, por exemplo;
- Para gerenciamento dos projetos, uma ferramenta que gosto muito é o Traxmo (http://traxmo.com/), que possui temporizador de tarefas e permite até gerar uma “fatura” para o cliente.
Quanto a onde encontrar clientes, existem sites como o Freelancer.com (https://www.freelancer.com/), 99Freelas (https://www.99freelas.com.br/) e (https://trampos.co/) para encontrar projetos, porém, as melhores experiências de freela que tive foram por indicação de outros colegas.
Quando pensou em fundar a Utilizza? Como está sendo a experiência?
Quando comecei a trabalhar como PJ, resolvi abrir uma empresa que não fosse “passiva”, apenas um CNPJ. Então eu formatei a Utilizza como uma empresa de cursos e consultoria em TI, voltando principalmente para avaliações de acessibilidade, usabilidade e QA.
A empresa ainda está no início, tem apenas 1 ano, mas já realizei alguns trabalhos importantes com ela. Além dos trabalhos de consultoria, pretendo estabelecer a Utilizza como uma empresa que apoia eventos de tecnologia.
No ano passado, a Utilizza foi a empresa apoiadora da Trilha Acessibilidade do The Developer’s Conference de São Paulo. Tenho alguns projetos de código aberto que pretendo lançar pela Utilizza, bem como o site institucional e o canal no Medium.
Como está no começo, ainda não estou com uma experiência completa de empreendedora, porém, a médio-prazo tenho planos para tornar a Utilizza um pequeno negócio em que eu possa me dedicar integralmente.
Quem te segue sabe que a acessibilidade está entre suas várias paixões. Inclusive, é integrante do Grupo de Especialistas em Acessibilidade do W3C Brasil. Fale-nos um pouco sobre a importância da acessibilidade e quais fontes e pessoas seguir para saber mais do assunto.
Acessibilidade ainda é vista como algo opcional de um projeto, um adendo, um diferencial. Entretanto, a web nasceu para ser acessível e democratizar o acesso à informação.
Considerando que no Brasil temos cerca de 24% da população com algum tipo de deficiência, de acordo com o Censo IBGE de 2010, não se preocupar com acessibilidade é desconsiderar 1/4 das pessoas que querem navegar na internet, fazer operações bancárias, marcas viagens, fazer compras, contratar serviços, etc.
Pessoas cegas, surdas, com mobilidade reduzida, deficiência intelectual, deficiência motora, deficiências múltiplas têm as mesmas necessidade para uso da web.
Uma frase icônica de Jorge Fernandes e Francisco Godinho afirma que “para a maioria das pessoas, a tecnologia torna a vida mais fácil. Para uma pessoa com necessidades especiais, a tecnologia torna as coisas possíveis”. Acessibilidade não é só uma questão técnica, é algo de grande relevância social para a inclusão.
Alguns sites interessantes e com uma linguagem descomplicada sobre o assunto:
- Acessibilitó - https://medium.com/@acessibilito
- Acessibilida.de - http://acessibilida.de/
- UX.Blog - https://uxdesign.blog.br/
- Cartilha de Acessibilidade na Web - http://www.w3c.br/pub/Materiais/PublicacoesW3C/cartilha-w3cbr-acessibilidade-web-fasciculo-I.html
Dentre as atividades que você já exerceu/exerce, quais as que você mais/menos gosta e por que?
A função que estou hoje, atuando tanto com front-end quanto com UX, é a que tem sido mais gratificante para mim, pois posso atuar diretamente com código em alguns projetos, construindo as soluções, enquanto outros projetos atuo com definições de estratégia, entrevista com usuários, pesquisa, prototipação e outras técnicas de UX.
A função que menos gostei de ter exercido, embora tenha aprendido muito, foi de assistente de gestão de projetos. Na prática, eu fazia as mesmas atividades de uma gerente de projetos.
Queria colocar em prática os conhecimentos adquiridos na pós que estava cursando, mas percebi que não era uma função com a qual eu me identificava por ter que me distanciar da parte técnica. Lidava também com clientes difíceis e meu dia-a-dia era Word, Excel e Project, rs.
A rotina e as cobranças também eram muito estressantes. Eu amadureci muito nos quase 2 anos que estive neste cargo, principalmente porque percebi que eu não preciso ir de modo obrigatório para a área de gestão ou liderança se quiser avançar na minha carreira, posso continuar seguindo na parte técnica e me tornar especialista. Acho que toda experiência, mesmo ruim, faz com que a gente tenha um aprendizado.
Curso Acessibilidade - Introdução
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